« Entendo por dignidade a perspectiva de uma terrível indecência »
Howard Barker
Porto
De 09 de Junho a 04 de Julho no Estúdio Zero
Terça a Sábado às 21h45
Domingo às 17h00
M/16
Mulheres Profundas/Animais Superficiais
de Howard Barker
Tradução│ Paulo Eduardo Carvalho
Encenação│ Rogério de Carvalho
Apoio ao movimento│Joana Providência
Cenografia│ Cláudia Armanda
Desenho de Luz │ Jorge Ribeiro
Sonoplastia│ Luís Aly
Figurinos │ Bernardo Monteiro
Assistente de Figurinos │ Ana Novais
Design Gráfico│Sandra Nicolau
Elenco│ Carla Miranda, Maria do Céu Ribeiro,
SINOPSE
Duas mulheres. Um cão mecânico. Depois de uma mudança, uma revolução, uma guerra.
Estas duas mulheres estão num espaço queimado, onde toda a vida desapareceu.
Card era criada de Strassa antes desta ‘alteração’.
A antiga criada veste traje rigoroso. A antiga senhora em roupas rasgadas, destruídas pela mudança.
Agora que as relações de poder foram varridas, o desejo pode aparecer. O desejo do marido de Card (existe ele?) por Strassa pode reconhecer-se e tornar-se o centro da relação delas.
Aos pés de ambas um cão mecânico. Ele ladra, ele mia, ele levanta uma pata, ele sai, ele entra, ele prende e leva peças de roupa.
Card e o cão tornam-se os advogados do marido junto de Strassa.
Card pelas suas palavras, o cão pelos seus movimentos, pedem a Strassa que se encontre o marido.
Mas não é o desejo secreto entre as duas mulheres que é o centro deste texto? Não é a descrição de um mundo de onde os homens teriam desaparecido?
MULHERES PROFUNDAS / ANIMAIS SUPERFICIAIS
Howard Barker que refuta fazer um teatro político aborda a política por esta revisitação dos benefícios do poder nas relações criada-senhor que já foram abordados no teatro clássico e que passam aqui pela possessão do corpo. Ele aborda igualmente o erotismo sádico e a sua interdependência com uma sociedade regulamentar e hierarquizada segundo a análise de Michel Foucault. Por algures, nesse opus, onde se situa a realidade? Não nos encontramos numa cerimónia ritual à maneira de Jean Genet em "As criadas" ou mais prosaicamente num jogo de papéis catárticos em redor de um cenário erótico funesto? O cão mecânico, muito evidentemente um emissário do desejo do homem invisível, já não será um cão, mas o simétrico do pássaro autómato de "Casanova" de Fellini, símbolo da realização sexual masculina? Não ataca Howard Barker o mito do sexo?
AUTOR
Howard Barker
Howard Barker nasceu em 1946 em Dulwich. Artista polimorfo, exprime-se igualmente bem através da escrita, da pintura e da poesia. A sua primeira peça foi produzida no Royal Court em 1970 quando, juntamente com Caryl Churchill, Howard Brenton e David Hare, ele foi visto como parte de uma mão repleta de jovens dramaturgos promissores de peças políticas com uma agenda progressista nos palcos britânicos. Ao contrário dos seus parceiros, no entanto, Barker não cresceu para a popularidade, e isto deve-se em parte à difícil ‘marca’ frequentemente usada para caracterizar as suas produções pelos críticos londrinos. Mesmo com esta resistência, ele cultivou um corpo de trabalho que lhe deu outra reputação: a de dramaturgo dos actores. Quando os palcos do Royal Court e da Companhia Royal Shakespeare já não acolhiam as suas obras, em 1988, actores de ambas as companhias criaram a Wrestling School, uma companhia de teatro devotada exclusivamente à encenação das suas peças. Nesta altura a sua dramaturgia abandonou o impulso ideológico e didáctico do seu trabalho inicial. Como os críticos falharam ou se recusaram a acompanhar esta mudança, em 1986 Barker começou a escrever textos teóricos em notas de programa, artigos de imprensa, e seminários, antes de os reunir num volume Arguments for a Theatre em 1989, expandido com edições subsequentes em 1993 e 1997. Desenvolveu a Teoria do “Teatro da Catástrofe “que se dirige a todos aqueles que sofrem de uma
argumentos para cinema e televisão. A sua peça de quinze horas The Estatic Bible em 2000, a sua revisão de Elsinore e o mito de Hamlet com Gertrude – The Cry em 2002, e a Seduction of Almighty God em 2006 prova a sua visão trágica tão afiada como sempre, com um corpo de trabalho que é avassalador na sua respiração e profundidade.
Demasiado clássico para a vanguarda, demasiado vanguardista para o teatro estabelecido, Barker continua por classificar-se a si mesmo.
“Nestes tempos – diz ele – em que o sofisma predilecto da indústria e do divertimento é fazer de conta que os doidos deprimidos têm sede de canções e de esquecimento”, o seu teatro vai em direcção oposta e inverte toda a verdade manifestada. O seu teatro nem é o lugar da reconciliação, nem o da consolação, não tem por fim a solidariedade, dirige-se sim à alma “onde ela sente a sua própria diferença”.
Descrito pelo Times como um dos “maiores dramaturgos vivos do Reino Unido”, Barker mostra trabalho como encenador com uma estética distintamente europeia, no seu tom abstracto, visualmente não naturalista, que contribui directamente para a expressão e objectivo do seu trabalho.
Ideias poéticas, poderosas e provocatórias e um imaginário vívido criam uma interessante e nova forma teatral. Barker desafia as preocupações do teatro contemporâneo britânico, com temas sócio-políticos e um teatro físico capaz de manter a linguagem poética no coração do teatro.
A companhia de Teatro As Boas Raparigas, levou à cena quatro dos seus textos, dos quais três se apresentaram agora editados pela Companhia em parceria com a editora Temas Originais: As Possibilidades, (Tio) Vânia e Mãos Mortas.
Estúdio Zero - Rua do Heroísmo nº 86 Porto.
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